Ogó: encruzilhadas de uma história das masculinidades e sexualidades negras na diáspora atlântica

Daniel Dos Santos

Resumo


O projeto luso-europeu de colonização do Brasil, além de proporcionar o encontro com o “outro” (ameríndios e africanos), provocou inúmeros imbricamentos históricos entre o Novo e o Velho mundo, integrantes de círculos culturais completamente divergentes. No Brasil Colonial, as concepções de sexo, sexualidade, erotismo e valores morais de ambos configuraram uma intensa colisão sociocultural em um ambiente classificado por Gilberto Freyre como “ambiente de intoxicação sexual”. O ambicioso projeto mercantil de colonização dos trópicos, movido pela larga utilização do trabalho escravo compulsório, segundo o sociólogo, seria um dos elementos responsáveis pela promoção da depravação e libertinagem sexual dos colonos e colonizados; depravação esta ferrenhamente combatida entre os séculos XVI e XVIII pela Igreja Católica e seu aparelho inquisitorial, que reprimiam e tentavam disciplinar as práticas sexuais coloniais, consideradas extremamente pecaminosas. A cultura cristã-católica de repressão das relações afetivo-sexuais contribuiu de forma decisiva para a transformação do erotismo e da sexualidade em assuntos tabus em nossa sociedade, sempre evitados e rejeitados socialmente através dos tempos. No processo de colonização e escravização de africanos e afro-brasileiros no Brasil é onde se encontram as possíveis origens dos mitos e estereótipos relacionados ao erotismo e à sexualidade do homem negro, como sua hipersexualidade e macrofalia hipotéticas, presentes no imaginário coletivo até nossa atualidade. As violentas tentativas de desumanização, zoomorfização, coisificação e animalização dos corpos de homens negros na diáspora africana através do tráfico humano transatlântico, que acabou desencadeando processos de (re)invenções de suas respectivas identidades, masculinidades e sexualidades, é o foco das discussões que serão desenvolvidas neste artigo.

PALAVRAS-CHAVE: Homem Negro; Colonialismo; Sexualidade.

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DOI: https://doi.org/10.5102/univhum.v11i1.2923

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ISSN 1984-9419 (impresso) - ISSN 2175-7488 (on-line)

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